Suk e a titularidade previsível
No meio da tempestade de erros do nigeriano Chidozie, um sulcoreano levou o F.C.Porto à vitória
É uma jornada que vale pela estatística. Pela frieza dos números. No dragão, a estatística
evidencia os sinais de recuperação e de melhoria significativa da qualidade de jogo. No
encontro frente ao Moreirense, o F.C.Porto fez vinte remates dentro da área. Ou seja, bateu o
recorde da temporada num jogo da Liga NOS e, acima de tudo, mostrou claras melhorias em
termos de jogo interior. E o jogo interior era o “calcanhar de Aquiles” do Porto de Lopetegui.
Nesta partida, Peseiro apostou em Suk na frente de ataque por duas razões: primeiro porque o
coreano é o avançado do plantel – demonstrou-o em Setúbal – mais adaptado ao 4x4x2 que
Peseiro pretende; depois porque, de todos os avançados do Porto, é aquele que melhor joga
de cabeça. Ao todo, seis remates de cabeça à baliza, algo que já não se via no F.C.Porto desde
há algum tempo.
Nos dragões, a nota negativa dá pelo nome de Chidozie. Se uma coisa é jogar num cenário de
organização defensiva, em que o posicionamento é mais fácil de definir ou então mais fácil de
corrigir, outra coisa é jogar em transição defensiva. Neste cenário, estar no local correcto
significa cobrir uma área vasta, estar no local incorrecto significa cobrir apenas esse local
incorrecto. O nigeriano é rápido, bom no desarme, mas ainda apresenta falhas em termos de
posicionamento. Culpas no golo do Benfica há duas semanas; culpas nos golos do Moreirense
nesta jornada. No primeiro golo, chega inclusivamente a deixar o meio completamente aberto
e à mercê do seu adversário.
Por falar em Benfica, os encarnados venceram sem dificuldades em Paços de Ferreira. No
Benfica, destaca-se um jogador que, supostamente quarta opção, vai-se impondo e
inclusivamente resolvendo um problema: sair a jogar a partir da zona central da defesa. Victor
Lindelof. Um jogador que é lateral direito de origem mas que, cumprido o seu processo
adaptativo, não comete os erros de Chidozie, por exemplo. Em Paços de Ferreira, o Benfica
voltou a socorrer-se da mobilidade ofensiva – neste caso mais à largura(Carcela) e menos ao
duelo individual(Gaitán) – para ganhar uma partida em que foi justo vencedor. Mais uma vez
eficiente em termos de bola parada. Falta Fejsa, que acrescenta mais do que Samaris em
termos de transição defensiva. Já o Paços procurou, sobretudo, o seu lado esquerdo para
atacar, com Diogo Jota e Helder Lopes em evidência. Mas viu-se. Viu-se a falta de rotina de
uma equipa que, com uma dezena de ausências, viu abalados os seus eixos de referência.
O Sporting venceu mas não convenceu. De facto, as rotinas estão lá mas neste jogo frente ao
Boavista, os leões pareceram algo lentos em todos os processos. Sem William
Carvalho(castigado), Jorge Jesus fez do habitual “plano B” o seu plano “A”. Com Gelson a
titular, o leão acrescentou lateralidade ao seu jogo mas, curiosamente, até foi Schelotto quem
mostrou bons predicados quer a impedir contra-ataques axadrezados quer em termos de jogo
ofensivo. Também Zeegelaar se apresentou em bom nível. Mais dois jogadores se
evidenciaram: Ewerthon(bom no jogo aéreo) e Ruiz(uma referência em termos de bolas
paradas). No entanto, o Boavista mostrou boa qualidade de jogo e, quando conseguia sair em
contragolpe, era sempre um perigo, fruto da introdução de referências ofensivas que Sanchez
tem vindo a fazer. De facto, já ninguém tem dúvidas: o Boavista tem qualidade para se manter
na Primeira Liga.
Neste fim-de-semana falou-se da grande penalidade arrancada por Jonas. Nem quero
destacar(mais uma vez) a inteligência do brasileiro em provocar de forma astuta a situação,
nem no erro de análise do árbitro. Quero, sim, falar do mau nível das arbitragens deste ano. É
claro que, caindo o erro sobre os três grandes, o mediatismo fica garantido. Porém, quando os
mesmos não estão envolvidos, verifica-se que o cenário é grave. São erros grosseiros a mais.
Assim de relance aparecem-me na cabeça dois jogos: uma Boavista-Estoril em que uma grande
penalidade inexistente deu o empate à equipa do Estoril; ou um Marítimo-Braga, que ficou
destruído logo na primeira meia-hora quando o árbitro assinalou grande penalidade e
expulsou o insular Maurício. Mas são dois exemplos no meio de um oceano de decisões
polémicas, faltas e faltinhas, discussões a rodos. Não tenho dúvidas: este ano o nível das
arbitragens baixou.